21/01/2018

“A Injustiça do Silêncio”...

... parece que nem a propósito do texto anterior, a minha mãe pediu-me para a substituir num espaço de opinião do jornal local de Vila das Aves, o Entre Margens...
Confesso que não tinha (nem tenho) muita vontade de contribuir, de escrever... mas pareceu-me que tinha mesmo de o fazer, que devia aceitar o desafio e aliviar a minha mãe. :)
Devia ter enviado o texto da sexta-feira passada, mas esqueci-me, e foi uma sorte ter-me lembrado esta manhã...
Depois da catequese dos Piratas e enquanto esperávamos que o Ricardo acordasse para almoçar, sentei-me ao computador e comecei a pesquisar um tema... Sim, porque a parte mais difícil da coisa é (no geral) arranjar um tema.
Lembrei-me de procurar efemérides deste mês e tive "sorte": inspirei-me no facto de se estar a aproximar o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto... a partir daí foi deixar a Inspiração trabalhar e acho que hoje "ela" até foi minha amiga.
Fica aqui o texto:

Aproxima-se o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto. 
27 de janeiro foi a data escolhida, em 2005, pela  Assembleia Geral das Nações Unidas, como dia internacional da lembrança das vítimas do Holocausto: o genocídio cometido pelos nazis e seus simpatizantes, que ceifou a vida de milhões de pessoas, maioritariamente judeus, durante a II Guerra Mundial. Foi a 27 de janeiro de 1945, que as tropas soviéticas libertaram os prisioneiros do maior campo de extermínio nazi, Auschwitz-Birkenau. 
Só nesse campo pensa-se que terão morrido cerca de 1 milhão de pessoas, na sua maioria judeus. Este número oficial não é, no entanto, consensual. O número exacto de mortos em Auschwitz é impossível de ser determinado. Como os nazis destruíram a maioria dos registos do genocídio, os esforços subsequentes para se conhecer o número total de mortos dependeram dos depoimentos de testemunhas, de sobreviventes, de acusados no Julgamento de Nuremberga, e dos arquivos alemães dos horários de chegada dos comboios ao campo e os registos das deportações. Também baseado em estimativas, pensa-se que cerca de 230 mil crianças e adolescentes foram deportados para Auschwitz durante seu funcionamento.
Qualquer um destes números impressiona e, no entanto, os nazis conseguiram manter os seus campos de extermínio em funcionamento, durante cerca de 5 anos, sem praticamente qualquer pressão interna ou internacional.
Na minha opinião, Auschwitz-Birkenau e os restantes campos de extermínio foram o culminar de uma cultura de ódio, alimentada pelo governo nazi e pela frustração e miséria que se seguiu à I Guerra Mundial. 
Será que todos os alemães sentiam esse ódio? Será que todos eram da opinião de que os judeus eram a razão de todos os males e que deviam ser de alguma forma castigados? 
Acredito que muitos não eram dessa opinião, mas tinham medo de o expressar. Da mesma forma que hoje em dia muitos de nós nos calamos e nada fazemos quando ouvimos alguém, com um discurso de ódio, a atacar, pessoalmente ou “pelas costas”, alguém que pertence a uma minoria, também naquela altura muitos alemães se devem ter salvaguardado, ficando calados. 
Também num 27 de janeiro, mas de 1965, no discurso no Dinkler Plaza Hotel, em Atlanta, Martin Luther King disse "A História terá que registar que a maior tragédia deste período de transição social não foram as palavras vitriólicas e outras acções violentas das pessoas más, mas o tremendo silêncio e indiferença das pessoas boas” (1)
Nestes tempos em que vivemos, em que o ódio e o seu discurso são cada vez mais frequentes, mesmo ao nível institucional, todos nós devemos refletir o que é que cada um de nós pode e deve fazer para promover uma sociedade livre de bullying, discriminação e maus-tratos de pessoas com base na sua raça, género ou crenças religiosas. 
Não devemos ficar calados, não podemos ficar calados. Com calma e caridade devemos, em todas as situações, demonstrar que o ódio não é a solução.
Nunca visitei Auschwitz-Birkenau, mas é uma das viagens que tenho programada para daqui a uns anos, quando os meus filhos tiverem idade para compreender e assimilar o que ali se passou. Quero que eles percebam que aquele local foi uma das consequências do ódio e da intolerância e que tudo devemos fazer para que a História não se repita.

(1) http://www.youtube.com/watch?v=a_VxuOmxdsg

7 comentários:

CB disse...

Adoro o facto de escreveres para um jornal ;)
Quanto ao tempo, quase nunca consigo falar sobre os assunto sem chorar, por isso tenho sérias dúvidas se algum dia vou ser capaz de visitar esse lugar...
Adorei a mensagem, e também acho que não nos devemos calar, mas também sinto que devemos escolher bem a forma como tentamos minimizar o bullying e o ódio que alimenta massas neste momento. A forma como é transmitida a mensagem é fundamental para ser ouvida, porque hoje em dia, ouve-se muito pouco e fala-se demasiado.
No entanto eu acredito em ti e na teu poder de argumentação ;)

CB disse...

Ah e o texto está óptimo parabéns (esquecia-me da parte mais importante)

Pródiga disse...

Muito obrigada, miga! :)

FFreitas disse...

Bem, o texto está TOP! Muito bem.
A maioria silenciosa sempre foi o problema do mundo.

Pródiga disse...

Muito obrigada, Belocas! :)

FFreitas disse...

Vou partilhá-lo no meu blog, ok? :)

Pródiga disse...

Claro que sim, no problem! :)
Na verdade, é uma honra... Beijinhos! :)