Os abutres

Cada vez fico mais convencida que a classe jornalística é formada por um bando de abutres, sedentos da desgraça dos outros.
Ontem voltei a ficar revoltada com as atitudes de repórteres e camera-men, enquanto via as reportagens sobre o acidente de avião em Madrid que vitimou mais de 150 entes queridos. Sim, porque os que morreram não são só números nem corpos carbonizados, são pessoas amadas pelos seus familiares e amigos. E estes, na sua grande dor pela perda violenta, deveriam ser preservados do contacto com esses abutres.
Vi familiares a serem barrados pela comunicação social enquanto eram guiados para dentro das instalações do Aeroporto de Barajas para tentarem saber mais informações. Tentavam, em vão, esconder o rosto e o seu sofrimento. Os abutres seguiam-nos, filmando de todos os ângulos e fazendo cair uma chuva de perguntas estúpidas como: "Tinha familiares no avião?" ou "Como se sente?". Que raio de pergunta é esta numa situação de catástrofe: "Como se sente?". Que informação valiosa esperam eles obter com esta pergunta? Será que há algum espectador que não saiba qual é a resposta? Não entendo porque é que se há de fazer sofrer ainda mais quem já tanto sofre...

O intuito da comunicação social é cada vez menos informar e cada vez mais escandalizar... e isso é triste! Muito triste!